A cultura do lucro a qualquer preço está ancorada na visão limitada do nós versus eles: nós nos aproveitamos da fragilidade deles para obter lucros, para despejar o nosso lixo, para testar nossos medicamentos, para degradar a natureza longe dos olhos das nossas autoridades eficientes, para fazer o trabalho sujo que não queremos fazer. Só que não existem eles, só existimos nós. Habitantes do mesmo planeta, respiramos o mesmo ar, nos nutrimos de alimentos produzidos na mesma terra, bebemos da mesma água. A degradação da natureza e a violência de qualquer tipo contra um ser humano impacta no bem estar de todos os outros 7 bilhões. Vender carne podre com aditivos cancerígenos para um ser humano em qualquer lugar do mundo atinge a todos nós, inclusive os vegetarianos, na nossa dignidade e em tudo o que nos une como humanidade.
As recentes notícias iluminaram uma verdade dolorosa: o atual sistema de produção de alimentos é insustentável social e ambientalmente, além de estar corrompido politicamente. Como todo sofrimento tem um aprendizado embutido, essa crise traz a oportunidade de sair da zona de conforto e repensar os hábitos alimentares. Por que?
Porque já se passou tempo suficiente para provar que o uso excessivo de agrotóxicos e que a produção de alimentos ultraprocessados não vai matar a fome do mundo. Pelo contrário, o atual sistema alimentar industrial de larga escala trouxe adoecimento na mesma proporção. A pecuária, em especial, está entre as três principais causas de problemas ambientais significativos. Além disso, os escândalos envolvendo frigoríficos brasileiros (os oficiais e os clandestinos) não são poucos nem recentes e incluem a imposição de condições laborais insalubres aos trabalhadores, maus tratos aos animais e desrespeito descarado às leis sanitárias e ambientais.
Existem leis reguladoras da atuação da indústria e comércio, direitos humanos e códex alimentarius, mas, na vida real, quem dá o ponto do mercado são os nossos hábitos de consumo, a forma como escolhemos e utilizamos recursos (desde os eletrônicos aos automóveis, passando pela informação, água e alimentos). Somos nós que, diariamente, orientamos e definimos o mercado com os nossos hábitos. Para o bem ou não.
Nossas escolhas são recheadas de responsabilidades socioambientais que vão muito além da satisfação do paladar e nutrição. Pela primeira vez na história há abundância de oferta de alimentos no planeta. Repito: abundância. E cabe a nós, consumidores, fazer escolhas conscientes a partir da reorientação dos nossos valores, desejos e comportamentos individuais e coletivos.
“Durante algum tempo podemos optar por viver anestesiados. Pelo menos até o momento que o karma bater na nossa porta, que o efeito das nossas ações e escolhas comece a aparecer em nossas vidas” (Sri Prem Baba)
Para redesenhar uma nova cadeia alimentar mais justa, sustentável e saudável é fundamental que cada um, como consumidor, reveja corajosa e honestamente seus hábitos. Precisamos simplesmente deixar de comprar alimentos adoecedores (carnes processadas, refrigerantes, salgadinhos, balas, chicletes, etc), arrancando as raízes do sistema atual de produção de doenças alimentares. Veja, não precisamos de verba, de passeatas, da ação do governo, do exército nem do sobrenatural. Cada indivíduo precisa fazer a sua parte cuidando de si mesmo, e agindo ética e solidariamente na comunidade. Tornar-se um consumidor consciente é uma atitude política ao alcance imediato de todos nós!
Já que você chegou até aqui, aproveito para te convidar a pensar sobre o vegetarianismo como um sistema alimentar saudável, prazeroso, pacífico e sustentável que não implica em desrespeito ou sacrifício de vidas animais.
A opção pela dieta vegetariana ou pelo menos, pela redução drástica do consumo de alimentos de origem animal, é viável e saudável em qualquer fase da vida. Além disso, é uma colaboração significativa pelo cuidado da nossa “casa comum”, o planeta. A cultura alimentar não violenta pode ser o início de uma revolução do consumo baseada no crescimento espiritual, na saúde felicidade, e não no lucro de grandes corporações.
Se quiser saber mais, dê uma passada pelo site da Sociedade Vegetariana Brasileira www.svb.com.br
Marise Berg Nutricionista CRN-3 41382
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